TURBILHÃO OU CABEÇA VAZIA
Um dia se acorda com uma vontade de fazer alguma coisa diferente, mas não se sabe exatamente o que... Depois de muito pensar, e nada acontecer, simplesmente se senta ao computador e começa a escrever sobre essa vontade que incomoda, mas vazia de idéias. A idéia é só colocar as palavras no “papel”, virtual é claro, mas nada acontece. Ou melhor, tudo acontece, as idéias agora são muitas. Agora aparece um novo desafio, sobre qual dessas idéias escrever. A primeira idéias é escrever sobre a falta delas, mas como elas aparecem aos montes e desordenadas, é preciso ordená-las, para fazer uma escolha. Que tal escrever sobre esse turbilhão que transforma um cérebro, e ainda a quem diga que a cabeça está vazia.
Alguém pode imaginar uma cabeça vazia. Se uma cabeça estivesse vazia estaria tão espremida como um pacote de café embalado à vácuo ou quem sabe como um de lingüiça, a final o efeito visual deve ser bem mais parecido. Uma cabeça sempre está tão cheia e as coisas aparecem lá dentro com tanta rapidez que não se consegue colocar em ordem todos esses acontecimentos. Quer um exemplo? Agora nesse momento, a minha está a mil!... Quero escrever, mas tenho que ir trabalhar, e como me dei conta do turbilhão? Ora é bem simples, se é que alguma coisa dentro de uma cabeça pode-se usar essa palavra como adjetivo, mas vamos lá... Eu estava com aquele “vazio” na cabeça, sentei no computador, ao mesmo tempo descubro que é preciso parar, pois meus olhos passaram de relance pelo relógio, me informando as horas. No exato momento que meus ouvidos captam o som da televisão, que pela programação, informa o mesmo que o relógio. Consegue perceber o turbilhão? Querer escrever, tomar banho, almoçar, e não sei se fico ou se vou. Decido ficar mais alguns minutinhos, afinal não sou demorado para tomar banho... Sem olhar o relógio, a música de abertura do jornal novamente me informa, que o tempo está se esgotando. A cabeça está virando um “mingau”, logo agora que as idéias estavam se organizando. Bem não tem jeito, ela cede as responsabilidades, afinal essas também estão lá dentro, como tempero desse mingau.
Já ouviu o ditado popular “cabeça vazia oficina do diabo”? É que na dita oficina tudo acontece em alta velocidade, ora se a cabeça está vazia como pode acontecer alguma coisa lá dentro. E o turbilhão continua... Vou trabalhar, pensei que lá estaria seguro, mas que nada o turbilhão sem a menor cerimônia acompanha os passos. No metrô ele fez uma festa. Os olhos pararam focalizando um senhor que cochilava, o turbilhão logo começou a fazer das suas perguntando:
_ “O que será que está acontecendo dentro daquela cabeça?”. Será que está vazia, será que está sonhando, se está com quê?
Mas antes de ouvir suas respostas, os olhos viram para outro lado, e percebem uma criança com o dedo no nariz, e o turbilhão no mesmo minuto exclama:
_ ”Que porcaria!”
Mas como não fica calado, pensa se disseram para a criança não esquecer de limpar o nariz e o ficaram apressando antes de sair, obediente está fazendo o que lhe mandaram.
Chegando no trabalho, o telefone imediatamente toca, e ele atrevido diz:
_ Será que tem olhos nesse aparelho, ou algum dispositivo na cadeira, que ao sentar é acionado fazendo o telefone funcionar?
E um outro departamento do turbilhão responde:
_ Ora não reclama, vai ver que já tocou muitas vezes, afinal você está atrasado.
Do outro lado em algum lugar escapa um pensamento, acho que vou continuar escrevendo e enviar para mim por e-mail...
_ Hei!!! Que diabos é isso! Você era só uma cabeça vazia, agora está se achando o máximo. Pensa até que já pode receber e enviar e-mails? Você está querendo ser ator, para ter um personagem?
Nesse instante ouve-se uma voz que vem lá do fundo, e fala num tom imperativo:
_ Onde vocês pensam que estão, vamos acabar com essa bagunça, que tem aqui muito trabalho a ser feito!
As vozes vão se aquietando, e sussurrando dizem que é melhor começar a trabalhar.
Durante a tarde toda a cabeça está tão cheia, funciona tão quieta que nem pensa. Trabalha fazendo tudo direitinha, de forma bem mecânica, lê os e-mails, imprime fichas, prepara pautas, arquiva papéis.
Estou ficando cansado, e penso que horas devem ser, acho que vou tomar um café e fumar. Quem sabe assim o tempo passa mais rápido, e chegue logo a hora de ir para casa. Posso deixar para arquivar esses papéis amanhã, é só chegar um pouquinho mais cedo, e recuperar o atraso de hoje.
Nesse instante, surge uma vozinha estranha, e sutilmente pergunta:
_ “Como se escreve vozinha, assim fica parecendo diminutivo de avó”.
_Mas eu não estou escrevendo, só estou pensando!
E a vozinha, pergunta de novo, num tom mais atrevido:
_ “Tem certeza que é você mesmo, ou será que sou eu o Turbilhão?”.
Começo a ficar preocupado. Acho que se começa a enlouquecer assim. Isso está me parecendo com o “Mundo de Sofia” às avessas.
O Turbilhão volta com todo o seu atrevimento e responde:
_ Ora e o quê, que você tem com isso, se sua cabeça está vazia?
E não me dando tempo de responder, vai logo dizendo que daqui para frente tem que ser escrito com inicial maiúscula. E argumenta cheio de prepotência, se existo, penso, tenho um nome, então tem que ser escrito com letra maiúscula. E eu, com minha cabeça vazia, acabo ficando sem resposta, disfarço penso que é melhor voltar para o trabalho, pois tenho muito em que pensar. Mas o atrevido tem sempre que dar a última palavra e pergunta: _ “tem certeza que sua cabeça está vazia agora, ou será que está vazia quando você está trabalhando? Quando você está trabalhando quem será que está atuando você ou eu?!” Atordoado com tanto vazio na minha pobre cabeça, volto para minha mesa e tento trabalhar, pois sou uma pessoa responsável, e costumo cumprir com meus compromissos.
_Ah! Você é que pensa, esqueceu que a responsabilidade faz parte do meu tempero? Que sou que te digo, se você será ou não responsável?
E eu pergunto assustado: _ E quando é que eu penso por mim mesmo?...
Estamos de casa nova!
Há 9 anos